A Eleição de Donald Trump e o Cenário Geopolítico Global: Entrevista com o Professor Márcio Bezerra
O bate papo aconteceu na manhã desta quarta-feira (06) e a análise do professor surpreendeu a equipe do HDN.
Por Dentro das Eleições Norte-Americanas • 06/11/2024
Publicado por Carlos André (Brasil) • 23:15
Em meio ao cenário geopolítico volátil e globalizado, a recente eleição de Donald Trump para a sua volta àpresidência dos Estados Unidos trouxe à tona questões e incertezas sobre o futuro da política internacional americana. Em uma conversa exclusiva com o Portal Hora da Notícia, o professor Márcio Bezerra, especialista em Geografia e Geopolítica, detalhou as possíveis mudanças e continuidades na política externa dos EUA sob o comando de Trump. Bezerra compartilhou uma visão analítica sobre temas como a questão da Palestina, o endurecimento das políticas de imigração, o fortalecimento do conservadorismo global e o papel dos EUA em conflitos e na indústria bélica.
Imperialismo e a Política Externa dos EUA
Desde o início do século 20, os Estados Unidos mantêm uma política externa voltada para a manutenção de seu poder como superpotência. Para Bezerra, esse quadro não deve mudar. Segundo ele, o novo mandato de Trump representa uma continuidade das práticas imperialistas tradicionais. "A princípio, não deve alterar tanto assim. Vão continuar com o imperialismo", afirma o professor.
Para Bezerra, a projeção global dos Estados Unidos está baseada no controle estratégico de diversas regiões e, consequentemente, no apoio a aliados importantes, como Israel. O professor acredita que a estreita relação entre os Estados Unidos e Israel tende a se intensificar com Trump. "O massacre sobre a Palestina deve aumentar, pois a extrema-direita tem forte apego a Israel." Esse apoio incondicional tende a gerar mais tensões no Oriente Médio, dificultando negociações de paz e ampliando o sofrimento da população palestina.
A Restrição à Imigração: Um Caminho Ainda Mais Fechado
Outro ponto importante levantado pelo professor foi a questão da imigração. Trump já havia feito dos imigrantes um alvo constante em seu discurso, reforçando estereótipos e implementando políticas rigorosas em seu mandato anterior. Bezerra acredita que essa postura deve ser ainda mais acentuada. "A imigração para os EUA deve ser AINDA mais rígida", disse, ressaltando que o fechamento das fronteiras deve se intensificar, refletindo um endurecimento de políticas anti-imigração que visam desestimular a entrada de estrangeiros.
Essa tendência pode trazer impactos profundos para pessoas que buscam asilo nos Estados Unidos, especialmente aquelas fugindo de zonas de conflito ou perseguições em seus países de origem. Segundo especialistas, essa abordagem, que reforça um nacionalismo exacerbado, pode também prejudicar as relações bilaterais com países latino-americanos e criar um distanciamento ainda maior dos Estados Unidos com seus vizinhos ao sul.
Ucrânia e a Ajuda Militar Americana
O conflito entre Rússia e Ucrânia, que já dura anos, permanece uma prioridade na agenda internacional. A relação de Trump com a Ucrânia sempre foi ambígua, mas Bezerra sugere que essa nova fase de seu governo pode intensificar o apoio militar ao país. "A Ucrânia talvez receba mais ajuda, talvez", disse, indicando que essa possibilidade está ligada aos interesses estratégicos dos Estados Unidos em limitar a influência da Rússia na região.
Essa ajuda, no entanto, permanece uma questão sensível, pois Trump tem demonstrado, em diversas ocasiões, resistência a comprometer-se com conflitos longos e caros. A dúvida sobre o suporte total à Ucrânia pode tornar-se um ponto de tensão com membros da OTAN, especialmente se a falta de apoio consistente minar a coesão da aliança militar.
Sinofobia: A Nova Guerra Fria?
Com a vitória de Trump, Bezerra prevê um acirramento nas tensões entre os Estados Unidos e a China, que, segundo ele, serão intensificadas por um discurso mais agressivo. "O discurso sinofóbico (contra a China) deve explodir!" declarou, apontando para o que ele acredita ser um dos principais desafios de uma nova administração Trump.
A rivalidade entre as duas superpotências se reflete em questões comerciais, tecnológicas e de influência global. A retórica anti-China que marcou o primeiro mandato de Trump — com sanções comerciais, restrições tecnológicas e acusações contra o governo chinês — pode atingir novos níveis. Especialistas apontam que essa abordagem não apenas deteriora as relações entre os dois países, mas também força outros países a escolher lados, o que pode criar uma polarização global, similar à observada durante a Guerra Fria.
O Efeito da Reeleição de Trump nas Extrema-Direitas ao Redor do Mundo
A vitória de Trump também deve impactar o crescimento e fortalecimento de movimentos de extrema-direita em outros países. Para Bezerra, essa vitória age como um símbolo para lideranças nacionalistas e conservadoras. "Além de lógico, reforçar as extremas direitas mundo afora nas eleições que virão", afirmou o professor.
Em diversas nações, Trump é visto como um ícone do conservadorismo, e sua retórica serve de exemplo para políticos que buscam promover plataformas nacionalistas, antimigração e ultraconservadoras. Esse fenômeno é particularmente preocupante para especialistas em democracia, pois a onda conservadora global pode comprometer avanços democráticos em áreas como direitos humanos e igualdade social.
A Promessa de "Acabar com as Guerras" e a Realidade da Indústria Bélica Americana
Uma das promessas recorrentes de Trump em sua campanha foi a ideia de "acabar com as guerras" e promover uma política externa menos intervencionista. Entretanto, Bezerra afirma que essa é uma promessa ilusória, já que a posição dos EUA como superpotência militar está atrelada ao constante envolvimento em conflitos e à venda de armamentos. "Só acredita se for inocente", disse, ao ser questionado sobre a possibilidade de uma política de paz genuína.
"O EUA fomentam guerras. Eles vendem armas. Lucram. E mantêm sua posição de superpotência militar", concluiu. Para o professor, a indústria bélica americana é um dos pilares da economia nacional, e a política externa agressiva é uma forma de assegurar o fluxo contínuo de vendas e a hegemonia militar dos EUA. Essa análise crítica revela que, mesmo sob a promessa de uma política de paz, os Estados Unidos seguem interesses econômicos e estratégicos que alimentam a indústria da guerra.
Conclusão
A vitória de Donald Trump representa não apenas uma continuidade de práticas imperialistas, mas também o risco de intensificação de políticas restritivas e discursos polarizadores. O professor Márcio Bezerra, em sua análise para o Portal Hora da Notícia, enfatiza que o retorno de Trump ao poder é um alerta sobre o papel dos EUA no cenário internacional e suas repercussões para o restante do mundo.
Para Bezerra, os próximos anos devem ser marcados por uma política externa ainda mais rígida, um nacionalismo exacerbado e uma retórica de confrontação com países rivais, como a China. Em última análise, o impacto dessa eleição transcende as fronteiras dos Estados Unidos e aponta para uma reconfiguração das alianças e do poder global, em um momento em que a política mundial parece cada vez mais fragmentada e incerta.
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