Crise Diplomática: Lula e Trump reacendem tensão histórica entre Brasil e Estados Unidos

O especialista Felipe dos Santos Barreto analisa o atual cenário geopolítico entre as duas maiores potências das Américas, marcado por embates ideológicos, choques diplomáticos e o enfraquecimento de laços comerciais.

Carlos André • Matriz do Portal Hora da Notícia no RJ.
Publicada em 10/07/2025 às 08:57 • Atualizada em 10/07/2025 às 09:18
Geopolítica Global em Pauta >> Brasil 🆚 EUA
Disputas ideológicas e choques diplomáticos podem acarretar em problemas maiores já visualizados

A relação entre Brasil e Estados Unidos vive, atualmente, um dos momentos mais tensos desde a redemocratização brasileira. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o atual presidente norte-americano, Donald Trump, têm protagonizado trocas públicas de farpas, divergências políticas profundas e visões completamente opostas sobre o papel de seus países no cenário internacional.

Nesta edição especial do quadro Geopolítica em Pauta, o Portal Hora da Notícia entrevistou o professor e especialista em geopolítica global Felipe dos Santos Barreto, que analisou o atual distanciamento entre Brasília e Washington, ao mesmo tempo em que revisitou marcos importantes da história diplomática entre as duas nações.

DE ALIADOS HISTÓRICOS A RIVAIS IDEOLÓGICOS

“Brasil e Estados Unidos já foram parceiros estratégicos, especialmente durante momentos como a Segunda Guerra Mundial e o início dos anos 2000”, contextualiza Felipe Barreto. “Mas as diferenças entre Lula e Trump não são apenas pessoais — são visões de mundo absolutamente opostas.”

Segundo o especialista, se no passado recente os países cooperaram em fóruns multilaterais e buscaram convergência comercial, hoje o clima é de desconfiança mútua.

“Lula defende um mundo multipolar, onde o Sul Global ganhe protagonismo. Trump é defensor ferrenho de um mundo unipolar comandado pelos EUA. Isso, por si só, já gera atrito constante.”

PONTOS CENTRAIS DE TENSÃO

Barreto destaca três grandes áreas de conflito entre os governos Lula e Trump:

1. QUESTÃO AMBIENTAL E AMAZÔNIA

Lula tem usado a agenda ambiental como pilar de sua política externa. Ele cobra dos países ricos, especialmente os EUA, financiamento climático e compromisso real com metas ambientais.
Trump, por sua vez, voltou à presidência com um discurso crítico aos acordos climáticos e rompeu novamente com compromissos ambientais multilaterais, como o Acordo de Paris.

“Trump acusa Lula de usar o meio ambiente como ferramenta de barganha política. Já Lula critica os EUA por hipocrisia ambiental. Isso mina qualquer possibilidade de cooperação nessa área”, afirma Barreto.

2. CONFLITOS INTERNACIONAIS E POSTURA DIPLOMÁTICA

Enquanto Trump adota um tom agressivo e unilateralista em relação a crises globais como a guerra na Ucrânia e a tensão no Oriente Médio, Lula aposta no diálogo e na diplomacia.
“Lula se propôs a mediar conflitos, inclusive sugerindo um 'clube da paz'. Trump vê isso como fraqueza e perda de tempo. Ele quer aliados submissos, não negociadores.”

3. COMÉRCIO, MERCOSUL E POLÍTICAS PROTECIONISTAS

As medidas protecionistas retomadas por Trump desde seu retorno à Casa Branca impactam diretamente o agronegócio e a indústria brasileira. Barreto destaca que o governo Trump impôs novas barreiras sanitárias e aumentou tarifas sobre produtos latino-americanos, incluindo o aço e a carne brasileira.
“O Brasil tenta manter o diálogo via Mercosul, mas Trump já deixou claro que não confia em blocos regionais. Para ele, são obstáculos à supremacia econômica dos EUA.”

REAÇÕES INTERNAS E IMPACTO INTERNACIONAL

A retórica agressiva de Trump contra o governo brasileiro encontrou eco em alas conservadoras do Congresso norte-americano e influenciou setores da mídia global. Ao mesmo tempo, Lula tenta reforçar alianças com China, Rússia, África e países do sul global, como alternativa à dependência dos EUA.

“Mas essa movimentação incomoda Washington, que vê o Brasil se aproximando demais dos BRICS e de adversários estratégicos, como a China e o Irã”, afirma Barreto.

Segundo o especialista, o risco é o Brasil ser visto pelos EUA como um país "não confiável" geopoliticamente, o que pode comprometer investimentos, acordos e projetos de cooperação.

EXISTE ESPAÇO PARA RECONCILIAÇÃO?

Apesar do cenário adverso, Felipe dos Santos Barreto acredita que o pragmatismo poderá prevalecer em algum momento. “A história já mostrou que mesmo líderes ideologicamente opostos, como Lula e Bush, conseguiram dialogar. O problema é que Trump não vê Lula como um estadista, e sim como um inimigo ideológico.”

Barreto alerta, no entanto, que qualquer reaproximação exigirá concessões: “Ou Lula flexibiliza a retórica, ou Trump será pressionado por setores econômicos a não romper completamente com o Brasil. Afinal, a interdependência econômica existe, e romper esse elo prejudica ambos.”

CONCLUSÃO

O distanciamento entre Brasil e Estados Unidos reflete um novo momento da política internacional, onde valores democráticos, interesses comerciais e projetos de poder colidem de forma inédita.

“O confronto entre Lula e Trump é um retrato fiel do choque entre globalismo e nacionalismo. Entre multilateralismo e isolacionismo. É mais que uma disputa bilateral — é um embate de visões sobre o próprio futuro da ordem mundial”, finaliza Felipe dos Santos Barreto.

📍Geopolítica em Pauta – A análise dos grandes embates internacionais sob uma lente crítica, com especialistas renomados e olhar brasileiro.

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