Especial TV Globo 60 Anos: Os Trapalhões.

TV Globo fez história com Os Trapalhões nas décadas de 1970 e 1980. O quarteto estava na RECORD, onde faziam parte do programa Os Insociáveis.

Especial TV Globo 60 Anos • Publicado em 22/12/2024 às 23:15 | por Carlos André.
A TV Globo fez história nesses 60 anos e Os Trapalhões foi um marco na história da emissora. (Reprodução/ Portal Hora da Notícia).

Neste domingo (22), a segunda edição especial de fim de ano do especial TV Globo 60 Anos estará trazendo os bastidores da história de Os Trapalhões que contava com Didi, Dedé, Mussum e Zacarias. Foi um sucesso estrondoso de audiência e nós, do Portal Hora da Notícia, decidimos trazer esse marco da TV Brasileira.

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Em março de 1977, Renato Aragão, Dedé Santana, Mussum e Zacarias foram contratados pela TV Globo para levar para a emissora 'Os Trapalhões', programa de grande sucesso da TV Tupi. Nos 18 anos seguintes, o grupo se afirmaria como um ponto de referência no humor nacional e conquistaria lugar de honra no panteão da televisão brasileira.

A história dos Trapalhões começou muitos anos antes. Em 1966, Wilton Franco, então um dos diretores da TV Excelsior, teve a ideia de reunir no humorístico 'Adoráveis Trapalhões' quatro artistas que aparentemente pouco tinham em comum: Wanderley Cardoso – cantor e galã da Jovem Guarda –, Ted Boy Marino – astro dos programas de telecatch –, Ivon Cury – cantor e ator nas chanchadas da Atlântida – e Renato Aragão, comediante de Sobral, no Ceará, que já começava a chamar a atenção pelos seus trabalhos no cinema e nas emissoras de TV do Rio de Janeiro desde 1964.

Redação: Augusto César Vannuci, Carlos Alberto de Nóbrega, Adriano Stuart e Mário Wilson | Direção: Augusto César Vannucci, Adriano Studart, Oswaldo Loureiro, Gracindo Jr., Paulo Araújo, Walter Lacet, Wilton Franco, José Lavigne, Fernando Gueiros, Maurício Sherman, Paulo Aragão Neto | Cameraman: Fernando Travessoni | Direção-geral: Augusto César Vannucci | Período de exibição: 13/03/1977 a 27/08/1995 | Horário: Domingos, 19h.

FORMATO

No início dos anos 1970, Renato Aragão, Manfried Sant’Anna (o Dedé Santana), Roberto Guilherme e o novato Antônio Carlos Bernardes Gomes, o Mussum (integrante do grupo Originais do Samba) foram contratados para atuar na TV Record, dando origem ao programa Os Insociáveis. Foi somente na TV Tupi, algum tempo depois, que eles adotaram de vez o nome Os Trapalhões. Nessa fase da Tupi, Mauro Faccio Gonçalves, o Zacarias, juntou-se ao grupo. O programa fez grande sucesso.

Em 1977, o Diretor de operações da Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, convidou os Trapalhões para levar seu programa para a emissora. Renato Aragão conta que temia aceitar a proposta. Afinal, na Tupi, ele tinha toda a liberdade para ser irreverente o quanto quisesse. A Globo era conhecida pelo seu famoso padrão de qualidade, e o humorista não tinha certeza se os Trapalhões se encaixariam nele. Para não ter que recusar formalmente a proposta, ele chegou a fazer uma lista de exigências de três páginas na qual determinava quais seriam o diretor, redator e o horário do programa. Para sua surpresa, Boni aceitou sem questionamentos as exigências. Os Trapalhões mudaram, então, de emissora.

Para marcar a presença dos humoristas, dois especiais foram ao ar na Rede Globo em 07 de janeiro e 05 de fevereiro, antes mesmo da estreia oficial de 'Os Trapalhões'. Exibidos às 21h na Sexta Super, faixa de programação noturna que, por conta do horário, era orientada para adultos – os especiais apresentavam vários quadros curtos e algumas cenas externas marcados pelo humor típico do grupo, que reunia no mesmo esquete doses de pastelão, nonsense, gags visuais e improvisos. 'Os Trapalhões' estreou em março de 1977, aos domingos, antes do Fantástico. O programa apresentava uma sucessão de esquetes entremeados com números musicais, exibidos sem aparente conexão, exceto a presença dos próprios Trapalhões. O quarteto era formado a partir de uma mistura de perfis: um nordestino que driblava as dificuldades com sagacidade, um galã de periferia, um malandro do morro e um mineiro matuto. Entre as atrações, um quadro mais longo, cheio de ação e diálogos, podia ser seguido por uma sucessão de gags visuais curtas e um quadro fixo como o Trapaswat, uma paródia do seriado americano Swat.

O diretor Augusto César Vannucci citava as chanchadas e a comédia pastelão como principais referências, mas não havia um formato pré-estabelecido. Segundo Renato Aragão, qualquer ideia podia virar um esquete a qualquer momento. Ele conta que, certa vez, a caminho do estúdio, ouviu no rádio a canção Teresinha, de Chico Buarque. Achou que a letra – a história de vários amores do ponto-de-vista de uma mulher – daria um quadro para 'Os Trapalhões'. Ao chegar ao Teatro Fênix, onde era gravado o programa, escreveu ele próprio o esquete e, no mesmo dia, gravou uma espécie de videoclipe satírico no qual o quarteto interpretava os personagens da música. A cena com Didi vestido de Maria Bethânia, com as pernas cabeludas, se tornou clássica e a imitação ressurgiu diversas vezes ao longo de vários episódios do programa.

Foi a primeira de uma série de paródias de musicais que marcaram o humorístico. 'Os Trapalhões' também costumavam participar dos números dos cantores convidados. Quando Ney Matogrosso foi ao programa, Didi estava trajando figurinos e maquiagem idênticos aos dele, por exemplo. Situação parecida aconteceu em outras ocasiões com outros artistas, como Amelinha, Elba Ramalho e Tony Tornado. Outra paródia memorável foi a canção 'Paralelas', de Belchior, em que Didi cantava: “No Cracovado, quem abre os braços sou eeeeeu”.

QUADROS 

Em 1990 'Os Trapalhões' estrearam o quadro 'Trapa Hotel', um estabelecimento meio decadente que tenta a todo custo se manter apesar das confusões do gerente Didi; do secretário de esportes e lazer Dedé e do segurança Mussum. Criado pela cenógrafa Leila Moreira, o cenário do Trapa Hotel – construído no Teatro Fênix – tinha dois andares, elevador panorâmico e porta de entrada giratória. O Trapa Hotel continuou a ser exibido em 1991, mas a primeira parte do programa sofreu mudanças.

O palco do Teatro Fênix se transformou em um bairro típico de uma grande metrópole, com prédios altos, letreiros em néon, becos escuros, carros passando e muita fumaça. Nesse cenário, cantores convidados se apresentavam em novos quadros fixos – como a 'Oficina dos Picaretas' e 'O Filho do Computador' – e eram encenados esquetes com alguns personagens que haviam aparecido no ano anterior, como o anão Ananias, feito por Renato Aragão.

Em 1992, 'Os Trapalhões' estreou o quadro 'Vila Vintém', que trazia sempre histórias completas ambientadas num bairro do subúrbio. O primeiro episódio, 'A Garota', era uma homenagem aos filmes de Charles Chaplin escrita por Mauro Wilson e Paulo de Andrade. Renato Aragão fazia o papel de Bonga, um vagabundo de rua que acolhia a menina Tininha (Alessandra Aguiar), fugitiva do orfanato. Dedé era o dono de uma oficina no bairro e Mussum, o mordomo de uma casa rica.

Outro quadro desse período foi 'Agência Trapatudo', uma agência de talentos dirigida pelos Trapalhões, com a participação de artistas convidados que davam entrevistas e faziam shows. No encerramento do programa, os Trapalhões entregavam o prêmio Irmã Dulce a pessoas que se dedicavam a obras de atendimento a crianças carentes.

Em 1993 o programa passou a exibir esquetes fixos, como 'Os Piratas', em que os Trapalhões, caracterizados como os próprios piratas, apareciam nas situações mais inusitadas. A locução que anunciava o nome do quadro – “Os piratas!”, em tom ameaçador – acabou se transformando num bordão que Didi repetia em outros quadros sem motivo aparente.

Outro quadro dessa época era a comédia Nos Cafundós do Brejo. Com uma linguagem entre o sitcom e as histórias em quadrinhos, mostrava o cotidiano de Zé do Brejo, personagem de Renato Aragão, e sua vida numa fazenda caindo aos pedaços. No elenco também estavam Alessandra Aguiar, Sérgio Mamberti, Chico Diaz, Letícia Spiller e Roberto Bomtempo.

PRODUÇÃO

'Os Trapalhões' trouxeram para a Globo sua marca registrada: o hábito de improvisar em cena e inserir cacos no texto com o único objetivo de fazer o público rir, sem a preocupação de respeitar normas cênicas convencionais. Assim, era comum que Didi levantasse a grama cenográfica para esconder uma chave, chutasse rochedos feitos de isopor para o alto, abrisse livros sem páginas, mostrasse a comida cenográfica, atravessasse paredes falsas ou denunciasse a ironia de estar fingindo se afogar em um mar feito de celofane.

Também era frequente que os colegas de cena explodissem em gargalhadas no meio das falas e, em seguida, voltassem normalmente ao script. Para Renato Aragão, a improvisação foi um recurso tão vital para o humor do programa quanto o texto. Ele conta que, no início, chegou a ser advertido por meio de memorandos de que seus cacos ameaçavam “desmistificar a televisão”. Boni, no entanto, tratou de dar aos comediantes carta branca para que fizessem o que bem entendessem.

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