Chuvas devem ficar abaixo da média em SP também no verão.

Acumulados não devem atingir bons índices nem em dezembro, o que acende alerta sobre a situação do abastecimento de água.

Lixo jogado no Rio Tietê ajuda a alagar áreas da capital, entre elas o extremo leste.

Com a chegada da primavera, a expectativa é de aumento de chuvas e de recuperação dos mananciais que abastecem a região metropolitana de São Paulo. Hoje quatro dos sete reservatórios estão com menos da metade da capacidade. No entanto, segundo a Climatempo, os acumulados de chuva devem ficar abaixo da média já neste mês e a tendência é mesma para o verão.

No inverno, que acabou no último dia 22, o total de precipitação foi de 119,2 milímetros, o que representa 79% da média, que é de 150 mm, de acordo com o Inmet (Instituto Nacional de Meteorologia). A estação foi marcada por recorde de frio e de calor e pouca chuva.

"As pancadas de chuva previstas para setembro estão abaixo da expectativa para o mês. Outubro dá início à estação chuvosa na capital. A média varia entre 120 e 200 mm no mês. As chuvas da primavera são isoladas e mal distribuídas. O temporal pode ser forte em uma cidade e não na outra. Isso não vai ajudar a reverter a situação de abastecimento de rios e reservatórios", explica a meteorologista da Climatempo, Dóris Palma.

O professor de Pós-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP, Pedro Luiz Côrtes, alerta para o agravamento da situação hídrica e energética. "O governo já admitiu que estamos em um cenário ainda pior de chuvas do que as previsões. Ainda não atingimos o pior da crise, o cenário tende a se deteriorar nos próximos meses".

As mudanças climáticas indicam cada vez mais períodos longos de estiagem, com chuvas concentradas. O cenário pode ser previsto, com o uso de tecnologias, mas não pode ser modificado.

"Para o verão, o cenário piora um pouco. Espera-se que as chuvas ganhem força, mas este não será o cenário este ano. Teremos chuvas abaixo da média em dezembro e em janeiro, melhora um pouco em fevereiro. Não é a ausência total, mas os acumulados não serão suficientes para alcançar a média, que é de 200 a 300 mm", afirma a meteorologista.

A situação se torna ainda mais grave porque também choveu pouco em dezembro de 2020, quando eram esperadas chuvas volumosas na estação. O impacto é sentido ao longo dos meses de estiagem.

Reservação de água

A seca que atinge a mata do entorno dos reservatórios prejudica o armazenamento de água das chuvas. "O reservatório não é igual uma piscina. Quando o solo está seco, primeiro se hidrata o solo, para depois acumular a água. A recuperação dos reservatórios demora muito mais. Quanto mais baixo o nível, mais lenta a recuperação", ressalta o professor da USP.

O cenário ideal seria de chuva em toda a bacia do Paraná, sobre o rio Tietê e em regiões como Campinas, no interior, para abastecer o sistema Cantareira, o maior reservatório de água. No entanto, esta não é a realidade.

"Às vezes não precisa chover em toda a extensão do rio. Se chover na cabeceira já melhora a afluência. Não reverte ou melhora significativamente o quadro, mas ajuda", destaca Dóris Palma. 

Em algumas áreas do estado sequer houve chuva neste mês. Entre elas Ribeirão Preto, no interior. O acumulado pluviométrico na capital hoje é de 32 mm. A média para o mês é de 84 mm, o que indica que não choveu nem a metade do esperado. 

O pesadelo das enchentes

No dia 23 de agosto, a Prefeitura de São Paulo publicou o Plano Preventivo para as Chuvas de Verão no Diário Oficial, que entrou em vigor no dia 1°. A ação, organizada pela Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas, se estende até 31 de março de 2022, período em que as chuvas são mais frequentes.

Até 31 de outubro, a cidade se prepara para a chegada dos temporais e, a partir de novembro, começa a executar as medidas planejadas. O objetivo é evitar possíveis danos, como alagamentos, enchentes, inundações e deslizamentos de terra com vítimas.

Lindinalva Gomes Pedrito, de 60 anos, sabe bem o que é o desespero com as enchentes. Ela mora há 17 anos na Vila Seabra, região do Jardim Helena, extremo leste de São Paulo. A casa, onde moram hoje nove pessoas, foi construída às margens do rio Tietê.

"Já perdi tudo. Todo ano a gente sofre com a enchente, menos no ano passado. Chega essa época a gente fica planejando o que fazer, mas a água vem de repente. Quando é durante o dia, ainda dá tempo de tiras coisas, mas à noite, não", conta.   

Segundo ela, não precisa chover muito para causar estragos nas casas da região. Basta que os temporais ocorram em dias seguidos.

"Tinha que fazer a limpeza do rio Tietê. Começaram umas obras, mas não chegaram perto da gente. O pessoal joga muito lixo, até colchão e geladeira, e vem muita sujeira. Precisava fazer algo que segurasse a água. Tem muito mosquito, pernilongo. Quando enche, é aquela nojeira, com água e rato", lembra a moradora.

Ela, no entanto, reconhece que muitos moradores colaboram com a sujeira, mesmo sofrendo com as enchentes na região.

Desassoreamento do Tietê

Uma das bandeiras defendidas por Euclides Mendes, que é líder comunitário na região, é o desassoreamento do rio Tietê. A obra foi autorizada pelo governo no último dia 9, com a publicação da homologação da licitação no Diário Oficial, mas não abrange toda a região do extremo leste de São Paulo.

Dos 25 km da Barragem da Penha até Itaquaquecetuba, 12 km não foram contemplados na limpeza, que vai ocorrer apenas da barragem até a ponte José Ermírio de Moraes, conhecida como Nitroquímica.

Segundo o documento, o vencedor foi o consórcio Barragem 3 pelo valor de quase R$ 92 milhões. O prazo de execução da obra é de 21 meses.

"O governo do estado decidiu limpar apenas metade do trecho. Eu nunca tinha visto isto antes. Ele deixou de fora a região que sofreu três decretos de calamidade pública nos últimos 10 anos. Se isso ocorrer, Jardim Helena, Guarulhos e Itaquaquecetuba não terão qualquer impacto. Se está sujo o rio, não tem escoamento da água e os moradores dos bairros sofrem com os alagamentos em efeito cascata", destaca o líder comunitário.

Para conter as enchentes, foram construídos o pôlder do Jardim Romano e o da Vila Itaim. Mas que não são suficientes para prevenir alagamentos em outros bairros da região leste. 

Euclides Mendes cobra também uma destinação à área de quase 360 mil m², onde estão as cavas de areia deixadas após a saída de uma mineradora há 50 anos. A ideia é transformá-las em parques.

"A cava trouxe danos ambientais à região. A área é imensa, não é limpa e nem desapropriada. É muito mato. A mineradora tem culpa e não pode deixar do jeito que está. Em Guarulhos, houve desapropriação de uma cava de areia", ressalta.

O outro lado

Em nota, o DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica) informou que realiza diversas ações no combate às enchentes no Alto Tietê e já concluiu o desassoreamento de trechos do Ribeirão Lajeado e do Córrego das Pedrinhas, ambos na região de abrangência do Jardim Helena, Vila Itaim e Vila Seabra, com o objetivo de aumentar a capacidade de vazão dos canais.

O órgão lembrou também a construção do pôlder da Vila Itaim, operante desde 2018, na região. "Em complemento ao equipamento, atualmente o DAEE licita as obras de construção de um muro de contenção da margem esquerda do córrego da Vila Itaim", informou. 

O DAEE destacou ainda que está concluindo a licitação para os serviços de limpeza, desassoreamento e desobstrução de mais 13 quilômetros do rio Tietê. Os serviços vão beneficiar os municípios de São Paulo e Guarulhos com a retirada de cerca de 820 mil m³ de sedimentos e mais 30 mil m³ de material rochoso do fundo do canal. 

Em relação à cava de mineração desativada localizada na Vila Itaim, chamada de Lagoa do Poção, o DAEE afirmou que "há tratativas junto ao Ministério Público para viabilização de aterro da área, início de um processo de revitalização e viabilização de futuro projeto de utilização pública".

Fonte: Portal R7.
Blog Hora da Notícia.

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