TV Globo 60 Anos: Globo Repórter.

Comportamento, aventura, ciência e natureza são alguns dos temas explorados pelo ‘Globo Repórter’. Programa semanal de reportagens, há cinco décadas no ar, também apresenta destinos no Brasil e no mundo.

Especial HDN: TV Globo 60 Anos - 05/06/2024 - 14:25.
Publicada por Carlos André e Henry Freitas.
Programa é exibido nas noites de sexta-feira na telinha da TV Globo. (Reprodução/ Globo).

O ‘Globo Repórter’ é um dos programas jornalísticos de vida mais longa na história da televisão brasileira. Criado em abril de 1973, a atração registra momentos decisivos da história do país, aprofunda a cobertura de fatos abordados nos telejornais da Globo, exibe matérias investigativas ancoradas na preservação dos direitos humanos e traça os perfis de importantes personalidades brasileiras. Outra marca do programa é mostrar ao telespectador, com riqueza de imagens, os lugares mais exóticos do Brasil e do mundo, novas pesquisas científicas nas áreas de saúde e tecnologia, além de curiosidades sobre o universo animal e o meio ambiente.

O ‘Globo Repórter’ vai ao ar às sextas-feiras, às 23h, e é apresentado por Sandra Annenberg, sob direção da jornalista Mônica Barbosa.

Período de exibição: 03/04/1973 – NO AR | Horário: 23h | Periodicidade: às sextas-feiras

ESTREIA

No início da década de 1970, o jornalismo da TV Globo começava a se solidificar, sobretudo graças ao sucesso do ‘Jornal Nacional’. Era o momento de apostar em um formato novo, que permitisse o maior aprofundamento nas reportagens. Ainda não havia estrutura para a produção de um programa constituído basicamente de externas, o que levou a direção a reeditar a experiência do ‘Globo Shell Especial’, que foi ao ar de janeiro de 1971 a março de 1973. O investimento na produção de cine documentários contou com narrativas conduzidas a partir das imagens, dos depoimentos dos entrevistados e da locução em off do apresentador.

O ‘Globo Repórter’ estreou, então, em 3 de abril de 1973, como um programa mensal. A proposta era que, a cada terça-feira do mês, fossem exibidas quatro reportagens referentes aos principais fatos do mês – nacionais e internacionais –, como explicou Artur da Távola em sua coluna no jornal O Globo, de 07 de abril de 1973: “quatro assuntos foram escolhidos para a apresentação de estreia: escolas de samba; eleições no Chile, Argentina e França; Fittipaldi; e o caso dos índios Siouxsie”. Inicialmente, o programa ia ao ar às terças-feiras, às 23h.

Em sua coluna, Artur da Távola acrescentou: o “‘Globo Repórter’ foi um dos mais importantes acontecimentos do ano televisivo”.

O primeiro e o último assuntos da estreia foram os grandes destaques do programa. No caso das escolas de samba, a reportagem foi construída em cima de texto de Luiz Lobo, acompanhado de pesquisa narrativa cronológica e do contraponto de depoimentos dos representantes das agremiações. A montagem de Paulo Gil Soares intercalou as histórias, dando sabor aos diálogos e monólogos gravados em horas e locais diferentes. Também com texto de Luiz Lobo e edição de Paulo Gil Soares, o caso dos índios Siouxsie foi narrado por Sérgio Chapelin, enquanto Mário Lago lia trechos de depoimentos de líderes indígenas do século anterior. A edição de imagens foi em contraponto, intercalando tomadas atuais com cenas de filmes western.

Jotair Assad dirigiu a parte das eleições chilenas, argentinas e francesas. Muitos filmes foram exibidos para fazer uma análise do período anterior ao processo eleitoral. Na retrospectiva das corridas de Fórmula 1, Moacyr Masson fez a montagem dos momentos mais importantes de todas as provas de 1972 até o Grande Prêmio da África, com destaque para a participação de Emerson Fittipaldi.

Na estreia, o programa foi dirigido por Moacyr Masson, com textos de Luiz Lobo e Humberto Vieira, sonoplastia de Nestor de Almeida, chefia de produção de Wladimir Godoy e montagem de Wilson Bruno. Na abertura, Sérgio Chapelin fez uma breve retrospectiva de todas as notícias do mês, ilustradas por filmes e, em seguida, introduziu o primeiro dos assuntos a serem tratados, as escolas de samba.

PRIMEIRAS EDIÇÕES

Nos primeiros meses de ‘Globo Repórter’, foram ao ar programas com temas variados, como a poluição sonora; a visão dos pampas gaúchos sobre a obra do escritor Érico Verissimo; as riquezas naturais da região Amazônica; os 50 anos da Atlântida, o mitológico estúdio de cinema brasileiro responsável pelas chanchadas; uma enchente na cidade de Tubarão, em Santa Catarina; os trabalhadores comuns nas grandes capitais brasileiras.

O diretor Moacyr Masson destacou, em matéria de O Globo do dia 01 de abril de 1973, às vésperas da estreia, que a maior dificuldade era quando surgia um assunto importante imprevisto, que o obrigava a fazer alterações no que já estava programado. Na reportagem de O Globo, ele explica: “como o tempo para a montagem do programa é muito maior do que o exigido para a edição de um telejornal diário, a equipe tem mais tempo de pesquisar os antecedentes, procurar filmes com maiores detalhes e mostrar ao telespectador os bastidores da notícia”.

As pautas dos programas eram definidas por Paulo Gil Soares e pelo editor Luiz Lobo. Eles eram responsáveis pelo roteiro dos documentários, alguns escritos com a colaboração de dramaturgos, como Fernando Peixoto; pela orientação das reportagens; pelo registro das imagens em filmes de 16mm e pela edição final feita em moviolas, nas salas de montagem de cinema.

Sérgio Chapelin, que na época também apresentava o ‘Jornal Nacional’, lembra-se da gravação do piloto do ‘Globo Repórter’. Ele conta que “era muito comum irmos, no verão, de sandália. E levávamos um paletozinho, porque não tinha maquiagem, não tinha guarda-roupa, não tinha nada. Como, para fazer o ‘Jornal Nacional’, eu vinha daquele jeito, fui assim gravar o programa teste para o ‘Globo Repórter’. Cheguei e tinha um cenário, com poltrona, sentei lá. Só vesti paletó e gravata. Lembro que recebi um bilhete bem-humorado, mas dizendo assim: ‘Chapelin, amanhã vamos gravar de novo, mas vem de sapato, meia, calça, cueca, camisa, gravata’”.

SEMANAL

Em agosto de 1973, como anunciado pelo jornal O Globo, no dia 07, o programa passou a ser apresentado semanalmente, ainda às 23h. O jornalístico começou a abordar, a cada semana, temas específicos: ‘Globo Repórter Atualidades’, que trazia os principais assuntos do mês; ‘Globo Repórter Pesquisa’, que explorava música, arte e história; ‘Globo Repórter Futuro’, em que se discutia a ciência de hoje prevendo o futuro; e ‘Globo Repórter Documento’, que exibia documentários da série ‘Globo Shell Especial’. Na estreia do novo formato, os temas foram: ‘Os Cavalinhos de Corrida’, sobre os bastidores do turfe; ‘Os Intocáveis’, uma análise da Seleção brasileira; ‘Meu Padim Padre Ciço’, sobre a canonização do Padre Cícero; e ‘Por que Caem os Aviões?’, sobre a segurança dos voos.

Nessa fase, a coordenação geral do programa era de Moacyr Masson, com direção de Paulo Gil Soares. Na equipe de produção, o editor de textos Luiz Lobo; os produtores Vladimir Godoy, Hélio Cardoso e Benito Medeiros; e os diretores Walter Lima Jr., Jotair Assad e Mário Pagés. Com apresentação de Sérgio Chapelin.

CINEASTAS PREMIADOS

O ‘Globo Repórter’ passou a ter uma equipe fixa de diretores, formada por cineastas premiados do Rio de Janeiro e de São Paulo que já haviam trabalhado com o cineasta Paulo Gil Soares no ‘Globo Shell Especial’. As contribuições de Eduardo Coutinho, João Batista de Andrade, Geraldo Sarno, Washington Novaes, Georges Bourdoukan, Dib Lutfi, Gregório Bacic, Maurice Capovilla, Walter Lima Jr., Hermano Penna e Luiz Carlos Maciel conferiam ao programa uma linguagem cinematográfica, com forte marca autoral. Nos primeiros anos, o programa era independente da então Central Globo de Jornalismo. Os cineastas pensavam suas pautas e produziam seus programas sozinhos.

Enquanto fazia parte da equipe do ‘Globo Repórter’, Eduardo Coutinho desenvolveu o que viria a ser o seu primeiro longa-metragem documental, ‘Cabra Marcado para Morrer’, lançado em 1984. Parte da montagem do filme foi realizada na moviola da TV Globo, entre um trabalho e outro. O filme conta a história de João Pedro Teixeira, um líder camponês da Paraíba assassinado em 1962.

O ‘Globo Repórter’ tinha três núcleos de produção: Núcleo de Reportagens Especiais, sediado no Rio de Janeiro e dirigido por Paulo Gil Soares, de 1973 a 1982; Divisão de Reportagens Especiais de São Paulo, criada em 1974 por João Batista de Andrade; e a Blimp Filmes, produtora independente, também sediada na capital paulista.

Recebíamos cerca de dez latinhas de filmes e saíamos para o campo. Naquela época, fazer uma edição era um trabalho artesanal incrível, disse José Hamilton Ribeiro, repórter do Globo Repórter.

Em seu depoimento ao especial Memória Globo, o repórter José Hamilton Ribeiro contou sobre uma reportagem que fez no Pantanal do Mato Grosso na primeira fase do ‘Globo Repórter’. O relato dá uma noção da forma como trabalhavam as equipes do programa: “Recebíamos cerca de dez latinhas de filmes e saíamos para o campo com uma delas. O operador de câmera tinha de vestir um saco preto para colocar o filme na máquina, de modo que não entrasse luz. Às vezes, no meio do mato, ficava uma cena engraçada. Só então íamos gravar, tendo de nos lembrar de que cada filme tinha apenas 11 minutos de duração, e que se perdia um pouco desse tempo nas partes inicial e final. Nós só saberíamos se a câmera estava com defeito após retornar à emissora. Como estávamos no Pantanal, isso significava que só saberíamos do defeito – e que eventualmente nada havia sido gravado – um mês depois, no Rio de Janeiro. As gravações do áudio e da imagem aconteciam em tempos diferentes: quando um entrevistado falava, o som demorava a entrar. A sincronização do som com a imagem era um trabalho artesanal. Havia, ainda, a etapa da edição, feita em moviola, uma máquina de cinema na qual íamos passando o filme e vendo as cenas. Quando queríamos colar uma cena a outra, tínhamos de fazer os cortes com tesoura e, às vezes, lamber o filme para limpá-lo antes de colar as partes. Em resumo, fazer uma edição era um trabalho artesanal incrível”, lembra.

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