A Crise da Criatividade na TV Brasileira: O que Está Acontecendo com Globo, SBT e Record?
Falta de autores, enredos repetitivos, programas enlatados e decisões de bastidores centralizadas nas mãos erradas: a televisão aberta brasileira enfrenta um apagão criativo enquanto o público clama por inovação.
Carlos André • Redação do Portal Hora da Notícia RJ
30/05/2025 • 12:20 • Atualizada às 12:42
Opinião de Carlos André > Falta de Criatividade na TV.
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O Carlos André, comunicador e fundador do Portal Hora da Notícia, volta a atacar – Foto: Divulgação. |
A televisão brasileira já foi sinônimo de inovação, emoção e prestígio internacional. Novelas como Roque Santeiro, Vale Tudo e O Clone marcaram época. Programas de auditório comandados por ícones como Chacrinha, Silvio Santos e Gugu Liberato formaram gerações. Mas hoje, ao ligar a TV, o telespectador se depara com reprises mal programadas, tramas recicladas e atrações que parecem não sair do piloto automático.
A pergunta que ecoa em redações, salas de roteiristas e, principalmente, entre os espectadores é: cadê a criatividade da TV brasileira?
A ERA DO CTRL+C E CTRL+V
As novelas — antes espinha dorsal da dramaturgia nacional — hoje caem em uma perigosa zona de conforto. A TV Globo, ainda líder no segmento, tem apostado mais em remakes do que em histórias originais. Exemplos recentes não faltam: Renascer (2024), que já foi exibida nos anos 90, e a regravação anunciada de Vale Tudo, considerada por muitos a maior novela da história da televisão, são sinais claros de uma emissora que prefere olhar para trás a arriscar o novo.
Onde estão as narrativas inéditas, com frescor, ousadia e relevância social?
A resposta pode estar em múltiplos fatores: falta de autores bem preparados, interferência corporativa, desvalorização do setor criativo e, não raro, a centralização de poder nas mãos de herdeiros e gestores que entendem mais de planilhas do que de televisão.
Enquanto isso, o SBT, que já ousou ao criar marcos como Éramos Seis e Chiquititas, se perde em adaptações fracas de novelas mexicanas. A Record, por sua vez, parece viver em loop com tramas bíblicas e um tom cada vez mais doutrinador do que artístico.
AUDITÓRIOS SEM ALMA
E os programas de auditório? Se antes eram grandes eventos semanais com conteúdo diversificado, quadros icônicos e participações memoráveis, hoje parecem cópias de si mesmos. Quadros reciclados, humor desgastado e formatos que ignoram completamente os interesses do público jovem.
Faltam ideias, falta oxigenação, falta coragem para apostar em talentos novos e formatos disruptivos. E, principalmente, falta ouvir o público.
OS BASTIDORES DA ESTAGNAÇÃO
Fontes de bastidores, que preferem não se identificar, apontam um problema sério: a televisão está nas mãos de quem não entende de televisão. Executivos com pouca vivência artística decidem o que vai ao ar com base em "tendências de mercado", ignorando o fator humano e emocional que move o público brasileiro. E em alguns casos, filhas de donos e gestores familiares tratam as emissoras como herança pessoal, sem abertura para a inovação vinda de fora.
A sensação generalizada é de que há talentos querendo criar, mas ninguém disposto a ouvir.
UM APELO À REINVENÇÃO
A televisão brasileira precisa urgentemente se reinventar. Isso começa com valorização do autor original, formação de novos roteiristas, investimento em tecnologia, e principalmente, ousadia. É necessário ter coragem para errar tentando criar algo novo, do que acertar na mesmice da fórmula de sempre.
Enquanto plataformas de streaming abraçam narrativas diversas e investem em novos formatos, a TV aberta corre o risco de se tornar um museu do passado — quando, na verdade, tem todas as ferramentas para voltar a ser protagonista.
A pergunta que fica é: quem vai ter coragem de virar essa chave?
Carlos André
Repórter, crítico e editor-chefe do Portal Hora da Notícia. Especialista em mídia e cultura pop brasileira.
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