O Silêncio da RECORD e o Grito da Hipocrisia Religiosa
Ao ignorar a escolha do Papa Leão XIV, a emissora escancara a interferência da Igreja Universal e o descompromisso com o jornalismo sério e plural.
Carlos André • Portal Hora da Notícia RJ.
08/05/2025 • 20:40 • Atualizada às 21:00.
Opinião de Carlos André.
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RECORD precisa deixar de ter interferência da Igreja Universal em seu jornalismo. (Reprodução/ Arquivo HDN). |
Enquanto o mundo acompanhava atentamente a escolha do novo papa, Leão XIV, em um dos momentos mais emblemáticos da Igreja Católica nos últimos anos, a TV RECORD preferiu virar as costas para a notícia. Não houve plantão, não houve destaque. Apenas o silêncio. Um silêncio que grita — não por falta de recursos jornalísticos, mas por obediência cega e desavergonhada à Igreja Universal do Reino de Deus.
A emissora, que se apresenta como um veículo de comunicação independente e plural, se rende constantemente a ordens desconexas com os princípios básicos da comunicação: informar, esclarecer, questionar. A interferência direta e nociva da IURD nos bastidores da programação da RECORD já não é mais segredo, mas a omissão diante de um evento de repercussão mundial ultrapassa todos os limites da ética jornalística.
Ignorar a eleição de um novo pontífice não é apenas uma escolha editorial — é um gesto de intolerância religiosa. É assumir que, para a RECORD, só existe espaço para um tipo de fé: a imposta por sua igreja controladora. O mais alarmante é que essa influência não se esconde. A própria cúpula da emissora já admite nos bastidores que ordens da Universal podem alterar a linha editorial, barrar conteúdos e até manipular pautas com base em interesses teológicos e doutrinários.
O jornalismo da RECORD está refém. Refém de uma instituição que prega amor e liberdade espiritual nos púlpitos, mas age com autoritarismo e censura dentro da redação. Um jornalismo vigiado, tolhido e condicionado a agradar os bispos de terno e microfone.
A escolha do Papa Leão XIV é um marco histórico. Ignorá-lo é ignorar o papel do jornalismo. É desprezar milhões de católicos brasileiros. É trair a audiência. E é, acima de tudo, confessar — ainda que silenciosamente — que quem manda na RECORD não é a notícia. É o altar corporativo da Universal. E isso, para o jornalismo brasileiro, é uma vergonha.
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