Elis Regina: A artista em confronto.

A terceira reportagem da série especial mostrará como Elis usou a voz, a coragem e a resistência em tempos de censura.

Por Carlos André | Base Oficial na Ilha do Governador, RJ
Publicada: 13/11/2025 | 22:45
Especiais do Portal Hora da Notícia > Elis Regina: Voz, Alma e História.
Nos anos 70, em plena ditadura militar, Elis Regina se tornou símbolo de resistência. - Arquivo Pessoal/ Divulgação

O Brasil dos anos 70 era um país vigiado, tenso, fraturado pela censura e pela repressão. Mas, no meio da escuridão, havia uma voz impossível de calar. Elis Regina, já consagrada como uma das maiores intérpretes do país, transformou o palco em trincheira e o microfone em arma. Cada canção que ela cantava parecia desafiar o poder — e isso não era exagero. Era fato.

A DÉCADA DA CORAGEM

Depois da consagração nos festivais, Elis entrou nos anos 70 como uma artista madura, dona de si e ciente do alcance da própria influência. O regime militar estava no auge, e a arte brasileira andava sob mira constante. Mesmo assim, ela nunca se contentou com a neutralidade.
Elis não era militante de palanque — era militante de emoção. Cantava com tanta intensidade que qualquer gesto soava político.

Canções como “O bêbado e a equilibrista” (João Bosco e Aldir Blanc) se tornaram hinos oficiosos do período. Quando Elis interpretava o verso “a esperança equilibrista sabe que o show de todo artista tem que continuar”, o público chorava — e chorava sabendo o porquê. A música era metáfora viva da resistência, e Elis lhe dava corpo e verdade.

O CUSTO DA AUTENTICIDADE

Ser intensa tem preço, e Elis pagou caro.
O temperamento forte, a franqueza e o desprezo por convenções lhe renderam desafetos e mal-entendidos. Em entrevistas, falava o que pensava — sobre política, arte, mercado e até colegas. Num ambiente de censura e vaidade, isso era dinamite.

Em 1972, a revista Veja publicou uma entrevista polêmica em que Elis criticava artistas e o próprio governo. Foi mal interpretada e, por meses, viveu sob pressão e acusações injustas de que teria “cedido” à ditadura. A cantora se defendeu, com lágrimas e indignação, em programas de TV e shows ao vivo. Quem a conhecia sabia: ela não era submissa a ninguém. Apenas se recusava a viver em pose.

A VOZ QUE NÃO SE CALAVA

Mesmo sob vigilância, Elis seguiu cantando o que queria — e do jeito que queria. Nos palcos, a emoção era tão violenta que se tornava ato político por si só. A cada apresentação, ela colocava o corpo inteiro na canção.
Em “Como Nossos Pais”, de Belchior, a catarse coletiva era inevitável. Elis gritava o verso “e eu quero é botar meu bloco na rua!” e a plateia respondia como se aquilo fosse palavra de ordem.

Com discos como “Elis & Tom” (1974), gravado com Tom Jobim, ela mostrou outro lado: o da intérprete refinada, técnica e sofisticada. O álbum é um dos marcos absolutos da MPB, unindo emoção e perfeição musical num nível que poucos artistas alcançaram.

ENTRE A ARTISTA E O PAÍS

Enquanto o país vivia o medo, Elis se tornava símbolo de liberdade emocional. O público via nela o que faltava no Brasil: verdade.
A força com que ela cantava parecia arrancar máscaras — inclusive as suas. A cada show, Elis expunha a própria alma diante da plateia. Chorava, tremia, sorria, brigava, improvisava. Era humana demais para caber na ideia de “diva” — e talvez por isso tenha sido tão amada.

UMA GERAÇÃO ATRÁS DA VOZ

Artistas como Milton Nascimento, Belchior, Ivan Lins, João Bosco e Gonzaguinha encontraram nela uma intérprete capaz de transformar suas composições em acontecimentos. Elis entendia cada letra como um manifesto pessoal. Não havia separação entre intérprete e mensagem.

Sua trajetória durante os anos de chumbo é o retrato mais poderoso do que a arte pode fazer: falar quando todos tentam calar. Elis não era ativista por slogans — era por instinto. Sua resistência vinha da honestidade bruta.

A cada canção, ela lembrava ao país o que a censura tentava apagar: a emoção é também uma forma de protesto.

Ainda hoje, na quarta reportagem da série “Elis Regina: Voz, Alma e História”, o Portal Hora da Notícia mergulha nos bastidores e nas contradições da artista — os amores, as brigas, o perfeccionismo extremo e o preço emocional de viver no limite.

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