Em meio à crise, comunidade ucraniana no Brasil teme invasão e envia carta a Bolsonaro.

No país, há cerca de 600 mil descendentes de ucranianos, que se encontram entre a região Sul e São Paulo.

Vitório Sorotiuk, Angela Zapotoczny e Vanessa Jerba são descendentes de ucranianos. (Imagem: Divulgação/ Arquivo Pessoal). 

Internacional | Por Carlos André Mamedes da Silva, do Portal Hora da Notícia.
12/02/2022 - 11:33 (Atualizada em 12/02/2022 - 11:40).

Para além das questões econômicas e diplomáticas, a atual crise que ocorre na fronteira entre a Rússia e a Ucrânia atinge o Brasil de maneira afetiva, já que uma parcela da população do país tem origem ucraniana. 

De acordo com a Representação Central Ucraniano-Brasileira, há cerca de 600 mil descendentes de ucranianos no país. Do total, 81% residem no estado do Paraná, e os demais se encontram no norte do estado de Santa Catarina, em Porto Alegre e na cidade de São Caetano do Sul, em São Paulo.

Entre as regiões com presença ucraniana, se destaca a cidade de Prudentópolis, a 212 km de Curitiba, que recebeu a colônia no final do século 19 e onde 75% dos habitantes são descendentes de imigrantes da região.

Angela Zapotoczny é bisneta de ucranianos e natural de Porto União, em Santa Catarina. O idioma, a cultura e a religião do país sempre foram preservados em sua família e desde a infância teve contato próximo com suas raízes.

A catarinense tem acompanhado a movimentação dos mais de 110 mil soldados russos na fronteira ucraniana e a ameaça de mais uma invasão ao país.

“A Rússia sempre exerceu essa opressão na Ucrânia, não querendo que o país cresça. O povo ucraniano tem uma história muito sofrida, e essa iminência de um novo conflito armado deixa toda a comunidade aflita”, conta.

Ela ainda ressalta que, apesar de não conseguir ajudar de forma direta, a comunidade mobiliza grupos de orações para que a atual crise seja solucionada de forma pacífica.


Membro do Núcleo dos Artesãos de Pêssankas, ela foi além da preservação de suas raízes e transformou o artesanato ucraniano em sua fonte de renda principal. As pêssankas, ovos coloridos à mão, que simbolizam vida, saúde e prosperidade, são peças muito importantes na arte tradicional da Ucrânia.

Vanessa Jerba, natural de Ponta Grossa, no Paraná, radicada em Campo Grande, também é bisneta de ucranianos e tem grande participação no artesanato tradicional.

Diferentemente de Angela, ela não teve contato próximo com a cultura do país durante a infância, se aproximou das tradições ucranianas apenas na adolescência por conta de um grupo folclórico e, há cinco anos, motivada por um livro didático de sua filha, retomou a produção de bordados e artesanatos.

Jerba faz parte de um grupo de artesãs que participou de uma exposição de mótankas (bonecas ucranianas) que foram feitas com trajes inspirados nos países em que a comunidade ucraniana está presente.

A mostra contou com uma boneca brasileira feita por Vanessa e começou virtualmente por conta da pandemia da Covid-19. Recentemente, a exposição passou por muitos países da União Europeia e agora passa por museus em cidades ucranianas.


Em meio ao aumento do conflito no leste europeu, a comunidade ucraniana no Brasil luta para preservar a cultura do país.

“Compartilhamos o sentimento de que a Ucrânia é um país livre, soberano e reconhecido mundialmente, portanto precisa ter suas fronteiras preservadas”, ressalta.

A artesã começou a ficar mais receosa à medida que mais tropas russas e de Belarus foram cercando as fronteiras ucranianas. Vanessa tem parentes e amigos na região: "vejo que os ucranianos convivem com essa tensão desde a tomada da Crimeia pelos russos, em 2014, então para eles o aumento da crise representa mais um passo que foi dado nesse conflito”, conclui

Diplomacia

O presidente da Representação Central da Comunidade Ucraniana no Brasil, Vitório Sorotiuk, é neto de ucranianos, nasceu em Prudentópolis, e teve o ucraniano como primeiro idioma.

Diante do atual conflito e nas vésperas da visita do presidente Jair Bolsonaro à Rússia, a Representação protocolou uma carta pedindo para que ele também viaje à Ucrânia.

“É natural que o Brasil tenha relações econômicas com outros países, mas tendo em vista esse momento crítico, seria necessário que o presidente fizesse uma visita ao presidente ucraniano, para que essa visita ao Putin não seja confundida com um apoio do Brasil à Rússia.”

Na iminência de uma nova invasão ao país de seus avós, Sorotiuk ressalta as dificuldades que a região já enfrentou: “a Revolução Russa de 1917, a Primeira e a Segunda guerras mundiais ocorreram no território da Ucrânia e a população também enfrentou a ‘fome artificial’ imposta por Stalin."

“Agora, a nova geração que viveu sem guerra desde 1945 até 2014, passa a enfrentar essa dura realidade."

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